Feeds:
Posts
Comentários

Ilusão

Ilusão

.

Neste barco, remei.

Nesta margem, cheguei.

O amarrei, prendi, segurei.

E preparei para margem pisar.

.

Mas espere.

Não.

.

A esta margem, rumei.

Neste barco, cheguei.

Só, errante, o prendi, segurei.

E preparei para barco pisar.

.

Mas espere.

Não.

.

O barco solto se vai.

A margem firme distancia.

Procurei, só, rezar, nadar.

E, no fundo d’água, não estava preparado…

.

para pisar.

.

Espere!

Espere!

Não!

.

Por: Paulo Ubermensch

 

01/09/09

 

O Cosmonauta

Eu olhei pro céu e me apaixonei.

Ele sempre me via com um olho.

No dia a lua piscava. À noite, o sol, eu sei.

E ele sempre piscava com um olho.

.

Esticando a mão, eu não o tocava.

Não tinha tamanho para alcançá-lo.

Repeti minha dança até ser cosmonauta.

E então meu amor poder desfrutá-lo.

.

E, ah, como os dias eram mais lentos!

Toda minha vida não era tão devagar!

Desejo sim tirar os pés deste terreno!

E encontrar, no céu, lugar que chame de lar…

.

Atravessando o céu, risquei com giz todo o azul.

Atravessei todo o dia para onde é noite todo dia.

Cheguei perto e vi os dois olhos. E os dois olhos, tudo.

Mas, quando fui dizer: “eu te amo”, no vácuo, voz não saía.

.

Vide em meus olhos.

Eles cintilam por você.

Vide em meus olhos.

Pois, eu só vejo os seus,

.

Minhas estrelas…

Meus olhos…

Sem ar…

Ar…

22/08/09

Viagem no Tempo

.

Minha bagagem é maior a cada dia.

A cada dia, avanço nesta linha.

Linha de tempo que leva o passado.

Passado vida, acertos, erros, achados.

.

Achado a bola de ferro, vejo o atraso.

Atraso ideias, sentimentos, sem acaso.

Caso haja solução, quero liberdade.

A de que possa estar solto e de culpa leve.

.

Leve eu este desejo ao que se foi.

Foi-se o tempo de corrigir este meu erro.

Eu erro, mas procuro do fundo do coração,

Ação que viaje o tempo chamada perdão.

.

Eu sinto muito.

.

11/08/09

Luthier

.

Por natureza, é de fato criador.

E bate dentro de si o instrumento.

O carrega para todo lugar com amor.

A música que leva é seu rebento.

.

Em cada detalhe se cria sua extensão.

Palpita e vemos o desenvolver

Enche de orgulho mesmo sem tocá-lo com a mão.

Sendo a música da existência o que o faz comover.

.

O mistério de seu tom não se resolverá

Até que o instrumento se complete.

Mas acompanha o coração como verás.

Pois, o Luthier põe sua alma como que repete.

.

Dando-lhe a luz, nasce perfeitamente.

Do esforço do maestro, de seu suor e sangue.

Observa-se a criação e, posteriormente,

Ao primeiro toque, seu som é: – mamãe.

.

25/07/09

.

Para a dádiva de ser mulher.

Excepcional criadora.

Horizonte Concreto


O Sol, longe, um dia queimava-nos.

Isso um dia eu ouvi dizerem. Acreditei.

Farol cósmico que, um dia, alertava-nos

O amanhecer que me protegia. Acreditei.

Um dia, proteção maior não houve

que arranhasse o céu e quase o Sol.

As garras cresciam e não houve quem pode…

Não houve quem pode contra isso, só.

O horizonte, antes azul, agora é concreto.

É certo que estamos protegidos.

Que estamos numa trincheira, buraco certo.

Mas estamos, escondidos, vivos?

Os formigueiros se erguem com força infinita.

O horizonte é coberto e o Sol que

Antes era amanhecer agora é apenas meio-dia.

Guardo os óculos escuros nesta estrofe.

Pois, de tanto me proteger.

Esqueci que é sem armadura que um dia vi beleza.

Que sentimos o calor, além de lentes negras.

Que tocamos os outros, o céu e o Sol de cada um.

Então, tire seus óculos e deixe-me ver seus olhos.

Se adapte também à nudez de um horizonte concreto.

23/07/09

Olho por olho e logo o mundo estará com um sorriso.

A Lua de Alá

No céu do deserto de certo espírito,
Habita astro parte prata, parte preto.
E perdido sua ferrugem aos grãos vermelhos,
Reflete de seu amor a luz, como mímico.

Mas, por poucos milagres, têm comunhão.
E todo camelo guarda uma lágrima para tal lástima.
Tamanho amor cósmico não gira como máquina.
E Sol e Lua se visitam para instantânea união.

No escuro da ausência do seu amor,
Ajoelhados todos apreciam com silêncio persa
O amor à luz, esta busca médica,
Para quem possa refletir nossa luz e dar-nos cor.

Este amor. Esta atração gira todo o Universo.
Só a pureza da Lua reflete as imagens de seu amor.
E só o Sol busca o olho único prata para se por.
Mas entenda que se trata duma estrofe e, não, verso.

Somos Lua, somos Sol e seus movimentos.
Somos a Unidade do Todo pensamento.
A rima única do que gira no Uno como cata-vento.
Do que é, do que está sempre. Salamaleico.

18/07/09

Prostituição

Hoje eu pago por prazer.
Ontem anseio por hoje.
Prazer.
Hoje.

Desejo de imediato.
Tremo, pois quero.
Imediato.
Quero.

Não sei como soltar.
Há-me tristeza.
Soltar.
Tristeza.

Quanto for eu pago.
Por um pouco de amor.
Pago.
Amor.

Mas neste instante!
Q`espero eterno.
Instante.
Eterno.

Tome, fique com o troco.
E faísque na minha vida.
Troco.
Minha vida.

Na vitrola, o novo disco.
O ouvido anseia o espetáculo, seu número.
Disco.
Seu número.

E, nesta lagoa de tristeza,
Mudo à prostituição musical.
A Tristeza
Musical.
É muda…

só se ouve…

Por: Paulo Ubermensch

18/07/09

só se percebe nos outros,
quando ouve-se o silêncio.

Ouça, hoje, o meu.

O Poder da Fala

O suor diz: – estou cansado.
A saliva diz: – estou com fome.
O tremor diz: – estou com medo.
O fechar de olhos diz: – me beije.

O astros dizem: – estamos dançando.
A água diz: – não sou azul.
O fogo diz: – não chegue perto.
A terra diz: – eu te seguro.

O ponteiro diz: – não posso parar.
Os passos dizem um ao outro: – você primeiro.
O travesseiro diz: – não se mexa.
A comida diz: – estou esfriando.

O caixão diz: – daqui você não sai.
E o útero: – saia logo.
O ninho: – bata asas.
Então, é preciso dizer algo?

08/07/09

Acordei como a tristeza em mim.
E, pesado, vaguei o dia todo.
A súplica muda pediu para sair
E convocou meu ânimo como morto.

Ameaçadores meus olhos estavam.
Avermelhados e prontos…e prontos…
Mas não iam… e hesitavam… e hesitavam…
A reza ecoar saída em meio a escombros.

Me cansando, me preparo e desejo sorte.
Mas de nada adianta para o que está por vir.
Pois, antes sequer da quarta estrofe
Soltei tudo e sozinho comecei a sorrir.

19/06/09

É preciso a depressão para existir a crista da onda.

O Vizinho da sua Vida

O vizinho da sua vida.

De porta em porta, um rio nos separava.
Mas do que importa se o tempo não nos agrada?
Espero pela sorte de abrirmos junto portas.
Me porto solitário a tua espera. A espera nossa.

De dentro ouço seus pés e bater porta.
Me comporto como ouvido e, pelo som, quase que roça.
Ah quem me dera, de meu porto, eu só te olhar e dar “bom dia”.
E, a partir daí, ter porta em  sincronia ao da vizinha!

Ao lado, perto, está fechada em si mesma.
E como parto sabendo de sua ausência?
No corredor ainda espero parte nesta história.
Pra, quem sabe, em harmonia, termos isso na memória.

Talvez poucos tenham entendido algo desta escrita.
Que não há porta, há metáfora desse “eu”
Pois, quando quis ser o visitante de sua vida,
Toquei a campainha e você não atendeu.

15/06/09

Por: Paulo Ubermensch

Às vezes é pedir muito ter a mesma porta.
Pois, para isso, é preciso, primeiro, ter a mesma janela.
Que entre a luz.